quarta-feira, 11 de abril de 2007
05 - Barrreira
terça-feira, 10 de abril de 2007
01 - Primeiro Trecho
Sem perda de tempo, pelo Engenheiro José Pinto de Oliveira Junior – que José Augusto Vieira conhecera no seu primeiro trabalho e que com ele o convivera, também, na ligação de Friburgo a Sumidouro, foi no dia 19 de Setembro de 1895, fincada, no porto da Piedade, a primeira estaca de locação da linha seguindo os estudos da Companhia, aprovados, em definitivo, pelo Estado do Rio de janeiro.
Esses estudos tiveram que ser quase que inteiramente revistos, principalmente os da serra, onde não se cogitava de linha em cremalheira.
Assim se manifestou o “Jornal do Commercio” em suas “varias” do dia 22 de agosto de 1895, ao ter conhecimento das negociações entaboladas entre a Companhia e José Augusto Vieira:
“Sabemos que a Companhia Estada de Ferro Therezopolis, há longo tempo assoberbada por difficuldades de todo o gênero, vae afinal activar a construcçãoda utilíssima linha férrea que porá, em breve, esta Capital em communicação diária e fácil com a pittoresca, salubérrima e productiva região Therezopolitana.
Plenamente autorizada pela recente assembéa de accionistas de 17 do corrente, a directoria contratou a construcção da linha e locação das terras de propriedade da Companhia com o Sr. José Augusto Vieira, activo emprehendedor de trabalhos deste gênero.
Assignalamos o facto por entendermos que dotar definitivamente a primorosa região, até hoje tão desaproveitada, de uma boa linha férrea, é impulsionar a riqueza publica do visinho Estado do Rio de Janeiro.”
Locados os primeiros Kilometros, foram eles logo atacados, de forma que no mês de Dezembro desse mesmo ano, foi noticiada pela imprensa da Capital a próxima inauguração do primeiro trecho, de Piedade a Magé, com a extensão de 5 Kilometros.
Eis o que disse a “Gazeta de Noticias” de um dos últimos dias de Dezembro:
THEREZOPOLIS
Nos primeiros dias do mez entrante vae ser inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Therezopolis, de Piedade a Magé. O empreiteiro da construcção da linha, Sr. José Agusto Vieira vae ser objecto de uma manifestação por parte dos accionistas da Companhia. No dia da inauguração ser-lhe-á offericida uma placa de prata, commemorativa dessa data, para ser colocada na primeira machina. A construcção da linha está adeantadissima, e em principio de Fevereiro deverá ser inaugurado outro trecho.
Com a temperatura de trinta e tantos grãos, com a elevação do preço das passagens para Petrópolis, e no estado em que se acha a antiga cidade imperial, hão de confessar que não deixa de ser agradável a espectativa de termos, em breve, communicação fácil e barata com o bello clima de Therezopolis.
Nessa mesma época, dizia “A Notícia”:
Dizem-nos que o nome do contratante de obras, Sr. José Augusto Vieira, é garantia de êxito, dando áquelle povo a esperança firme de ouvir, em breve, o estrídulo da locomotiva nas quebradas da Serra dos Órgãos...
Contamos que esta tentativa de via férrea seja a ultima, e que em breve possam todos admirar a bella cidade apenas in nomine, apesar dos bons e confortáveis hotéis, perfeitamente dirigidos, cuja concurrencia não corresponde aos sacrifícios dos dignos proprietários.
Em breve teremos o prazer de ouvir:
A Therezopolis! A Therezopolis!
Em meados de dezembro de 1895 inaugurou o primeiro trecho de 5 km entre Piedade e Magé.
Na foto histórica vemos o Sr. José Augusto Vieira de pé à esquerda da locomotiva
02 - Raiz da Serra
Inauditos esforços despendeu no percurso dessa primeira etapa do seu objetivo. Viu-se só; e, só, teve que arcar com as dificuldades que se lhe opunham, umas inerentes e tal ordem de trabalhos e outras imprevistas que sempre vem surpreender.
As chuvas ininterruptas, próprias da estação em que foram iniciados os trabalhos; o impaludismo ceifador de vidas; os brejos insondáveis que absorviam em horas o trabalho de dias; o cambio vil a que teve de ser pago o material importado: locomotivas, trilhos, etc. ; os embaraços da Praça; foram os empecilhos que o empreiteiro teve que enfrentar e vencer galhardamente.
Nenhuma dificuldade técnica ofereceu este pequeno trecho. As que se apresentaram, foram, apenas, de execução; e não foram poucas.
Este trecho foi inaugurado com a presença do Presidente do Estado, Dr. Mauricio de Abreu, e de seus convidados.
Essa brilhante comitiva serviu-se da oportunidade para visitar Therezopolis.
É de 21.Km.620 metros a extensão exata desse trecho, entre o porto de mar e o pé da serra, com as estações de Piedade, no Km 0, Magé no Km. 5, Santo Aleixo (Hoje Augusto Vieira), no Km. 11, e Raiz da Serra, ou Guararema, no Km. 22.São poucas as obras d’arte, destacando-s as duas pontes de 15 metros de vão sobre os rios Magé, no Km. 5, e Bananal, no Km 19.
Tem mais esse trecho, uma ponte de 13 metros, duas de 10, dez pontilhões e inúmeros bueiros correntes. Ainda na Raiz da Serra foram instaladas as oficinas, embora rudimentares, para o reparo das locomotivas e dos carros.
Nesses 21.620 metros, a extensão em retas é de 18.340 metros; em curvas, 3.280 metros; o declive máximo, 1%; o raio máximo de curvas 310 metros e o mínimo 120 metros, na entrada de Magé; a extensão da maior tangente 3.948 metros e a da maior curva 132 metros.As obras mais notáveis foram, entretanto, os brejos “Taboão” e “Catinguento” onde, a par das dificuldades naturais da construção de infindáveis aterros, o combate contra o impaludismo seria de atemorizar a outros temperamentos menos afeito a luta.Dias antes do determinado para a inauguração e abertura do trafego desse primeiro trecho, publicou o “Jornal do Commercio” a seguinte “varia”:O Sr. José Augusto Vieira, empreiteiro geral da Estrada de Ferro Therezopolis, em trem adrende preparado, proporciona hoje ao Sr. Dr. Mauricio de Abreu, Prsidente do Estado do Rio de janeiro, a opportunidade de percorrer o trecho da via férrea já construído entre o porto de Piedade e Bananal, trecho que esm breve será aberto ao trafego e que, desde logo, porá Therezopolis a quatro horas de distancia desta CapitalAcompanharão o Presidente do visinho estado: O referido empreitreiro, o Sr. Dr. José thomaz de Porciúncula, duputado geral, o Sr. Dr. Edwiges de Queiroz, chefe de policia do Estado do Rio de Janeiro, o Sr. Senador Quintino Bocayuva, e outras pessoas gradas.
Porto da Piedade ponto inicial da Estrada de Ferro Therezopolis
Finalmente o “Jornal do Commercio” , de 4 de Novembro de 1896, em sua “Gazetilha” noticiou da seguinte forma a inauguração e abertura do trafego da Estrada de Ferro Therezopolis:THEREZOPOLISO que a muitos ainda há um anno, parecia uma utopia, vae sendo uma realidade. O salubérrimo, vasto e poético valle do Paquequer, no planaldo da Serra dos Órgãos, a 960 metros do nivel do mar, em futuro não remoto, será dominado pela locomotiva que o porá a duas horas de distancia desta Capital.A viagem que, ainda a 31 do mez próximo findo, não se fazia senão por duas etapas e dispendiosamente, visto que só podia ser feita a cavallo ou de carruagem, indo o viajante pernoitar, no dia de sahida, no Bananal, Raiz da Serra, para galgal-a o dia seguinte, desde o dia 1º. de novembro corrente, que começou a ser feita em condições de facilidade, barateza e commodidade, que, de futuro, ainda serão melhoradas.Foi inaugurada no dia 1º., ao som de hynnos festivos e acclamações de jubilo a primeira secção concluída da estrada, 22 kilometros, que tanto vai do porto de Piedade, ponto inicial, até além do lugar denominado Bananal, na raiz da poética e alterosa Serra dos Órgãos.A Coompanhia Estrada de Ferro Therezopolis foi uma das muitas lançadas, doida e vertiginosamente . . .. . .Como então noticiámos, na cerimônia dessa inauguração e visita á projectada e nova cidade de Therezopolis, em 1 e 2 do corrente, tomaram jubilosamente parte o referido empreiteiro Sr. José Augusto Vieira, Dr. Mauricio de Abreu, Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Dr. álvaro Rocha, seu official de gabinete, Capitão Eduardo Pinheiro, seu ajudante de ordens, Dr. Thomaz de Porciúncula, Deputado geral, Senador Quintino Bocayuva, Dr. Rego Barros, director da Companhia E. F. Therezopolis, Dr. Manoel Maria de Carvalho, Inspector Geral da Immigração, Dr. Evaristo Gouzaga, secretario da Prefeitura Municipal da Capital Federal, Dr, Annibal de Carvalho, Dr, Augusto de Abreu Lacerda, Secretario das Finanças e Obras Publicas do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Baptista de Leão, engenheiro da Secretaria de Obras Publicas do mesmo Estado, autoridades de Magé, representantes da Imprensa e outras pessoas gradas.A fidalga hospedagem dada pelo illustre empreiteiro á comitiva inaugurante, não esquecendo o Sr. Hygino thomaz da Silveira, proprietário do Hotel dos Órgãos, que teve a gentileza de ser o arreiador e conductor da cavalhada, captivou-a em excesso.Percorrendo o trecho da via-ferrea, terraplenamento e locação da immensa áreas, destinada a moderna cidade de Therezopolis, os altos funccioiarios do visinho Estado do Rio de Janeiro, assim como outros notáveis visitantes, louvaram e felicitaram a Directoria da Companhia E. F. Therezopolis e, notadamente o empreiteiro-constructor Sr. José Augusto Vieira, que em rápido lapso de tempo, e em circumstancias tão calamitosa da praça, effetuou tão apreciaveis e importantes trabalhos.O Sr. Presidente do Estadodo Rio e mais cavalheiros de seu séqüito seguiram hontem em trem especial, de Mauá para Petrópolis e os demais cavalheiros regressaram a esta Capital em uma lancha da Inspectoria de Immigração.Estava vencida a primeira etapa da luta!Custou a obra a soma de Rs. 1.269:000$000, obtida pelo empreiteiro de operações de credito e de suas economias acumuladas com grande sacrifício em ingratos trabalhos de construtor de estrada de ferro..Durante seis longos anos de 1896 a 1901, permaneceu a ponta dos trilhos em “Guararema”, Raiz da Serra, até que o empreiteiro regularizasse sua situação perante a Companhia concessionarias e o Groverno do Estado.
Volta da comitiva que foi inaugurar o primeiro trecho de sua estrada de ferro, a convite de José Augusto Vieira. Da esquerda para a direita: Dr. Álvaro rocha, off. de gab. Do Presidente do Estado; Dr. Grey, Juiz de Direito da Comarca; Professor Ferreira da Rosa. Redactor de “O Paiz”; Julio Pimentel, da “Gazeta de Noticias”; Desembargador Ferreira da Silva, da Relação do Estado; Deputado José Thomaz da Porciúncula, antigo Presidente do Estado; um convidado; no fundo, Hygino Thomaz da Silveira, proprietário do Hotel Hygino; Dr. Annibal de Carvalho, Secretário do Estado; Dr. Mauricio de Abreu, Presidente do Estado; um funcionário do estado; Dr. Marques de Leão, Engenheiro do Estado; Francisco Pereira dos Santos Leal, Pharmaceutico em Therezopolis; em pé, o Almirante Cordeiro da Graça; General Quintino Bocayuva; com o guarda-chuva na mão, Veridiano de Carvalho; Sebastião de Souza; Dr. Abreu Lacerda, Secretario do Estado; Dr. Evaristo Gonzaga, Secr. da Prefeitura do Rio de Janeiro; Cap. Eduardo Pinheiro, Ajudante de Ordens do Presidente; José Augusto Vieira, o constructor da estrada; um soldado; e Joaquim José Moreira, o Itabira. Na extrema esquerda, sob o telheiro; o Manduca Palma, o caçador emérito, sucessor do “Garrafão”
Grupo tirado na varanda do Hotel Hygino em 1º. de novembro de 1896, depois da inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Therezopolis, entre Piedade e raiz da Serra. Da esquerda para a direita dentro da varanda: Desembargador Ferreira da silva; um convidado; engenheiro do Estado, Dr. F. P. Marques Baptista Leão; ferreira da rosa, de “O Paiz”; General Quintino Bocayuva, senador pelo Estado do Rio; Dr. Álvaro rocha, off. de gab. Do Pres. Do Estado; Julio Pimentel, da “Gazeta de Noticias”; Dr. Joaquim Mauricio e Abreu, Presidente do e. do Rio; Dr. Grey, Juiz de Direito de Magé; e fora da varanda: Veridiano de Carvalho, publicista notável; Dr. Annibal de Carvalho; Dr. Evaristo Gonzaga, Secr. do Prefito do D. Federal; Dr. Abreu Lacerda, Secr. de Obras do Estado; José Augusto Vieira, construtor da Estrada; e Dr. Niobey, engenheiro da Prefeitura do Distrito Federal
Outra vista do Higino, com destaque a varanda da foto anterior
04 - Pharoux & Prainha
O primeiro trecho da viagem para Teresópolis, era feito por barcos na baia da Guanabara.
As estações de embarque com destino ao porto da Piedade, em Magé, estavam localizadas no Rio de Janeiro, no “Cais Pharoux” no mesmo local da estação das Barcas na Praça XV ou na Praça Mauá no “Cais da Prainha”.
É que de 1896 a 1902, partia a barca que fazia o serviço insipiente de Therezopolis de uma antiga estação no Cais Pharoux, na Praça XV, ao lado da ponte de Paquetá da Companhia Ferry.
Para que o serviço da Therezopolis não se interrompesse, permitiu o Prefeito Passos que a Empresa construísse uma pequena estação de madeira, na “Ponte dos Marinheiros”, desembarque de inflamáveis na antiga Prainha, ao lado da ponte de Petrópolis, junto ao Arsenal de Marinha, na Praça Mauá. Aí ficou o ponto inicial da viagem para Therezopolis, até que as obras do Porto do Rio de janeiro obrigaram novamente a sua mudança.
Regularizado o serviço de transporte entre a Capital e Raiz da Serra, em 1901, quando José Augusto Vieira se tornou o concessionário da Estrada e proprietário dos terrenos de Teresópolis, passou ele a cogitar o prosseguimento das obras de construção na Serra.
Realizou-se hontem a experiência official do vapor “Therezopolis”, totalmente reconstruído, pertencente á Empresa da Estrada de Ferro Therezopolis. O pequeno navio destina-se á carreira entre Prainha e porto da Piedade, devendo entrar em actividade no próximo dia 3 de Novembro. O director da Empresa, Sr. José Augusto Vieira, á custa de muito esforço e tenacidade consegue, assim, dotar o Estado do Rio de grandes melhoramentos, facilitando o transito de passageiros entre a Capital Federal e a linda e saudável cidade de Therezopolis.
Para o acto a que hontem assistimos, fora convidado o Dr. Nilo Peçanha, Presidente do Estado do Rio. S. Exa. Embarcou ás 2 horas da tarde em S. domingos, em lancha do Estado, acompanhado de sua Exma. Esposa, de sua prima Mlle. Evelina Belisario, do ajudante de ordens Capitão Fontenelle, do deputado Erico Coelho e dos Srs. Nestor Ascoli, Elysio de Araújo e Álvares de Azevedo Sobrinho.
O Dr. Nilo Peçanha chegou á estação da Estrada de Ferro Therezopolis, na Prainha, ás 2,20 da tarde, sendo recebido pelos Srs. José Augusto Vieira, director da empresa e Dr. Armando Vieira, director technico.
Uma lancha conduzio para bordo os convidados. Acharam-se ahi os Srs. Alberto Maxwell, Alberto Couto, Dr. Américo Werneck, consultor technicodo Estado. Dr. Benjamin da Rocha Faria, Mario Dutra Guimarães, Franklin de Almeida, representante d’”A Capital”, Joaquim Lacerda, do “Jornal do Commercio”, Mario Soares, do “Correio da Manhã”, Narciso Martins, do “Jornal do Brasil” e o representante d’”A Gazeta”.
A impressão immediata de quem subia no “Therezopolis” não podia ser melhor. Estava-se dentro de um elegante e sólido vaporzinho. Asseiado, confortável, luxuoso mesmo. São estas as suas dimensões: 90 pés entre perpendiculares; bocca 16 pés; calado 4 pés á proa e 6 a ré. O “Therezopolis” tem duas machiinas de tríplice expansão do fabricante inglês William Allsup, de 200 H. P. cada uma, trabalhando com 140 libras de pressão. Foi reconstruído nas importantes officinas de Srs. Felismino Soares & Cia., sendo totalmente chapeado de aço. Os trabalhos de carpintaria foram feitos nas officinas dos Srs. Augusto de Moraes, correndo todos os serviços sob a immediata fiscalisação da Empresa.
Pouco depois de estarem todos a bordo, levantou ferro o navio e rumou para a Armação. Em poucos minutos alcançou o destino.
A ancora desceu e, ahi, serviram-se sorvetes aos convidados. O espetáculo que se desenrolava era, então, magnífico. Com um dia luminoso de hontem, o panorama da bahia era bellissimo.
Ia-se fazer a experiência definitiva de marcha do navio. Este deu uma pequena volta e partindo do Toque-Toque, fez proa para Gragoatá em linha recta. Em optima carreira foi feito o percurso, demonstrando a velocidade de 12 milhas por hora. Estava terminada a experiência com resultado excellente.
Em frente á barra, o “Terezopolis”, tendo descripto uma suave curva, partiu em direcção a Niteroy, parando em frente a S. Domingos. Então, o Dr. Nilo Peçanha e os demais convidados desceram para a câmara, uma confortabilíssima peça, onde se serviram champagne e biscoitos. O Dr. Nilo Peçanha brindou o Sr. José Augusto Vieira, fazendo votos pela prosperidade da Empresa. Respondendo, o Sr. Augusto Vieira, bebeu á felicidade´pessoal de S. Exa.
Neste momento atracava ao navio a lancha que devia conduzir o Dr. Nilo Peçanha a Niteroy. S. Exa. Despediu-se passando para a embarcação que o esperava, acompanhado de sua Exma. Família e pessoas da comitiva.
O “Therezopolis”, por sua vez, regressava á Prainha, onde chegou ás 5,40 da tarde. Assim terminava o passeio encantador deixando em todos quantos nelle tomaram parte uma inapagavel impressão, que foi tranmittida ao digno directo da E. F. Therezopolis.
Um mês depois de inaugurado oficialmente o “Therezopolis”, isto é, a 1º.de Dezembro de 1904, assim noticiava a “Gazeta de Noticias” a inauguração do primeiro trecho de cremalheira, na serra de Teresópolis, com a presença do Sr. Nilo Peçanha, presidente do Estado do Rio de Janeiro:
. . . Ás 8 ½ horas da manhã SS. Exas. Chegaram á estação marítima da Estrada de Ferro, sita na Prainha, onde os aguardava o seu operoso proprietário Sr. José Augusto Vieira, o Engenheiro Armando Vieira e o Sr. Mario Dutra Guimarães que, em seguida os conduziram para bordo do vapor “Therezopolis”, que faz o serviço da Empresa entre esta cidade e o porto da Piedade, onde todos desembarcaram ás 10 horas da manhã . . .
. . . Ás 5 horas SS. Exas. Estavam, de regresso, na Prainha, todos muito agradavelmente impressionados com a esplendida excursão . . .
Ainda em seu discurso em 19 de Setembro de 1908, quando da chegada do trem a Therezopolis, José Augusto Vieira também declarou
. . . Enquanto se lançava a cremalheira sobre esse leito custoso, enquanto se construía a ponte sobre o Paquequer e se armava o viaduto de aço no kilometro 29, atendi ao serviço de navegação entre a Capital da Republica e o porto da Piedade. O vapor “Therezopolis” já não satisfazia. Mandei construir na Europa outro vapor, exclusivamente para passageiros, e com velocidade de 15 milhas. É o “Presidente”, cujas experiências na bahia do Rio de Janeiro confirmaram a posse dos atributos requisitados.
Acha-se, pois esta Empresa aparelhada para o trafego marítimo e terrestre, conforme as exigências do serviço atual. . . .
O “Jornal do Commercio”, em suas edições de 19 e 20 de Setembro de 1908, trouxe as seguintes informações.
. . . Celebraram-se grandes festas.
Após a encampação da Estrada em 1919, o progresso foi notável. O trafego foi aumentado acentuando-se mais ainda no primeiro semestre de 1923.
Mesmo assim o déficit governamental orçava em pouco mais que a receita total. Por exemplo, no ano de 1922, a receita foi de 705.721$958 e a despesa 1.476.613$768, o que representava déficit de nada menos que 770.891$810.
Um déficit tão volumoso como este era devido à existência, entre dois trechos de aderência, de um serviço especial de serra, por si só oneroso. Mas era engrossado principalmente pelo serviço marítimo. Para evitar tão alto ônus, o governo decidiu estabelecer tráfego mútuo com a Leopoldina.
Transporte direto por terra até Praia Formosa, para aí dirigindo-se de Magé, pelo Porto das Caixas e daí continuando pela Estrada Leopoldina até a Praça Mauá, no Rio de Janeiro.
Este trafego inaugurou-se a 11 de novembro de 1923
O porto da Piedade perde sua importância a partir de então.
03 - Porto da Piedade
O que era esse trajeto de cahique ainda poderão dizer alguns freqüentadores de Therezopolis, desse tempo!
Consistiu o melhoramento aludido, na abertura de um canal dragado, com 1.000 metros de extensão, e na construção de uma ponte de 100 metros, com flutuante, para a atracação das referidas barcas.
A execução dessa obra tem sua historia que aqui vamos resumir. Sua origem prende-se à concessão da ligação de Areal a Entre Rios, na E. F. Leopoldina.
Pelo decreto no. 427 de 21 de Dezembro de 1897, foi dada essa concessão pela fórma seguinte:
O Dr. Joaquim Mauricio de Abreu, presidente do Estado do Rio de Janeiro, usando da faculdade que lê dá o art. 2º. Da lei no. 50 de 30 de Janeiro de 1894, e attendendo ao requerido pelo cidadão José Augusto vieira, faz-lhe concessão do privilegio para construir a estrada de ferro do Areal, na via-ferrea Grão-Pará, à de Entre-Rios, na Estrada de Ferro Central do Brasil, seguindo o valle do Piabanha
O Secretário de Estado das Obras Publicas e industriais assim o tenha entendido e o faça executar.
Palácio do Governo do Estado do Rio de janeiro, Petrópolis, 21 de Dezembro de 1897. – Dr. Joaquim Mauricio de Abreu – Cypriano J. de Carvalho.
Essa ligação era aspiração antiga do Estado do Rio de Janeiro. A Companhia E. F. Leopoldina, em más condições financeiras, nessa época, não podia fazer. Era ainda empresa brasileira.
Atendendo a prova de capacidade demonstrada na construção do primeiro trecho da Estrada de Ferro Therezopolis, foi José Augusto Vieira convidado a requerer essa concessão que lhe foi outorgada pelo Decreto acima.
Como condição essencial a realização dessa obra, obteve José Augusto Vieira permissão para utilizar-se do leito da antiga estrada de rodagem “União e Indústria” que jazia abandonado e quase intransitável.
Submetido à aprovação os respectivos estudos, logo executados, e tendo o Governo passado às mãos do Dr Alberto de Seixas Martins Torres, pareceu conveniente para o Estado que fosse a “Leopoldina Railway” já então, companhia inglesa, a explorar de tal concessão, como complemento de sua rede.
Apelando Alberto Torres para José Augusto Vieira, devolveu-lhe este, a referida concessão sem pensar, absolutamente, em qualquer compensação pela desistência do seu direito.
Depois de insistentemente procurar o Presidente do Estado retribuir o ato de cavalheirismo que acabava de praticar, respondeu-lhe José Augusto Vieira que, bastava que o Estado lhe concedesse, por empréstimo, uma draga de alcatruzes que possuía, a fim de abrir o canal de acesso ao porto da Piedade, e
facilitar a atracação das embarcações de cargas e de passageiros destinadas à sua estrada de ferro. Correriam, entretanto, por conta de José Augusto Vieira todas as despesas de pessoal, combustível e lubrificantes, enquanto a draga estivesse no seu serviço.
Foi-lhe imediatamente, entregue o aparelho, e executado o canal em mais de dois anos de trabalhos penosissimos, atendendo-se à dureza do material a escavar.
A obra foi iniciada em 27 de Dezembro de 1897 e terminada em Maio de 1900.
Assim noticiou o “O Paiz”, órgão de grande autoridade na época, dirigido por Quintino Bocayuva, a inauguração desse melhoramento.
ESTRADA DE FERRO THEREZOPOLIS
É já sobejamente conhecida a Estrada de Ferro que liga o porto da Piedade á raiz da Serra dos Órgãos, na garganta que dá para a formosa e incomparável cidade de Therezopolis.
Emprehendimento audacioso de um distincto brasileiro, o Sr. José Augusto Vieira, o Mauá da actual geração, essa Estrada inaugurada em 1896, representa uma victoria sobre o azar que malsinou outras empresas, e constitue um dos elementos principaes da prosperidade material do Município de Therezopolis.
Exclusivamente á sua custa, o Sr. José Augusto Vieira lançou esses 22 kilometros de via-ferrea, interessado como patriota em facilitar o acesso á mais pittoresca e mais saudável cidade de verão que se offerece aos habitantes dó Rio de Janeiro.
Depois da Estrada, porém, inaugurada com a presença das primeiras autoridades do Estado e de nosso chefe o Sr. Quintino Bocayuva, alguma coisa restava a fazer. Não era levar a cremalheira ao alto da Serra, até junto do Dedo de Deus pois, ainda é cedo para crestar com as baforadas da chaminé de uma locomotiva a belleza virginal daquella serra íngreme, que a liteira e o cavalo galgam em menos de duas horas. A subida da serra é um dos mais bucólicos prazeres do veranista; é indispensável fazel-a de vagar, parando deante dos mil quadros que a natureza offerece ao olhar extasiado do viandante. O que restava fazer era levar a barca até junto do trem, evitando a incommoda baldeação para um “caíque”, tocado á vara, num percurso de mais de 1.000 metros. Essa obra foi levada a termo.
O Sr. Vieira, exercendo uma actividade que não sómente o honra, porque também honra o Brasil, fez abrir um canal de 1.000 metros por onde a barca da Cantareira penetra, indo atracar a uma bella ponte de 100 metros, com fluctuante. Era uma obra reputada irrealizável, que ninguem tentaria, que effectivamente absorveu farto capital e longos mezes de incessante trabalho; mas é hoje uma obra concluída, rigorosamente bem executada, vestíbulo digno da adeantada e paradisíaca Therezopolis.
Esse canal e essa ponte foram ante-hontem inaugurados. A barca não pára mais ao largo; atraca directamente; o passageiro não tem mais necessidade de baldear para o incommodo “caíque”: desembarca directamente sobre a ponte, no extremo da qual se acha o trem que o transporta rápido, da beira mar á raiz da Serra, via Magé.
A essa festa inaugural de um melhoramento que valoriza importante zona do Estado do Rio de Janeiro, concorreram pessoas desta Capital e de Petrópolis.
Desta ultima cidade, partiram ás 7 ½ horas da manhã os Drs. Virgilio Franklin, Secretario de Obras, Marcellino Ramos, Director de Obras, Marques de Leão, engenheiro da mesma Directoria; Theophilo de Almeida, deputado estadual, e Osório Duque Estrada funccionario publico. Alguns representantes da imprensa também desceram da Capital do Estado.
Em Mauá, tomaram a lancha e dirigiram-se á Olaria e ao escriptorio da Commissão do Saneamento da Baixada do Estado, onde o engenheiro chefe, Dr. Ancora, franqueou a visita ao escriptorio e dependências, offerecendo a todos um saboroso café. Depois, seguiram para Piedade, sendo recebidos pelo Dr. Pinto de Oliveira, engenheiro da Estrada de Ferro Therezopolis, o qual os acompanhou a Magé. Ahi foram recebidos pelos Drs. Siqueira, Presidente da Câmara Municipal e Ferreira Pinto, Juiz de Direito. O Dr. Virgilio Franklin como as demais pessoas, percorreu uma parte da cidade, inspeccionando obras estaduaes, e a cadeia, e visitando a fabrica de tecidos Magéense.
Regressando a Piedade encontraram-se os excursionistas petropolitanos com o Sr. José Augusto Vieira, que já havia chegado da Capital acompanhando amigos, admiradores de sua tenacidade de industrial, e alumnos da Escola Polytechnica. Pouco depois, chegaram em trem especial alguns veranistas de Therezopolis, e membros da Câmara Municipal da mesma cidade.
Serviu-se então, um succulento almoço, sendo erguidos ao champagne os brindes mais expressivos do quanto é apreciada no Estado do Rio de Janeiro a obra valorosa do Sr. José Augusto Vieira.
Depois deste senhor ter saudado os amigos que o acompanharam naquella hora de jubilo pela realização de tão real melhoramento, falou o Sr. Lacerda, digno secretario da Escola Normal de Niteroy. Foi uma oração felicíssima! Declarando-se filho daquella região beneficiada pela fecunda actividade do Sr. José Augusto Vieira, produziu trópos de mágica inspiração para agradecer em nome de Therezopolis a obra do infatigável industrial. Depois, tomou a palavra o Sr. Veridiano de Carvalho, que soube, também, apreciar devidamente a origem daquella festa, seguindo-se-lhe o Dr. Virgilio franklin, illustre Secretario de Obras Publicas do Estado. S.Exa. fez um discurso de bello effeito, negando o direito ao próprio Estado de ter o brinde de honra, quando o brinde de honra de direito pertencia ao gênio yankee de José Augusto Vieira.
Outros oradores tiveram a palavra para manifestações de regosijo e congratulações terminando o repasto com um brinde á Republica erguido pelo Dr. Virgilio Franklin.
Ás 3 ½ regressaram os funcionários do Estado a Petrópolis, os magéenses e therezopolitanos a seus lares, e os amigos do honrado industrial ao Cães Pharoux, deixando a tremular nas balizas do grande canal os galhardetes festivos, e acmpanhando até longe o tremular das bandeiras que engalanavam a sólida ponte de Piedade. Ficava inaugurado com symbolicas demonsrtrações de applauso mais um porto elegante no litoral do Estado do Rio de janeiro.
“O Paiz” também tem orgulho em assignalar esse acontecimento.
Oitos anos depois, José Augusto Vieira em seu discurso em 19 de Setembro de 1908, quando da chegada do trem a Therezopolis, assim declamou sobre este feito
. . . Surgio, porém, logo, nova contrariedade: Estávamos sem porto. As embarcações de passageiros e de cargas eram obrigadas a fundear a dois mil metros de terra para não encalharem. O enrocamento do litoral, na extensão de cem metros, formando um cais, tornara-se inutilidade. Fez-se necessária a dragagem de um canal para tornar possível a atracação das embarcações. Trabalhou para esse efeito, durante um ano, uma draga que cavou, em 1.000 metros longitudinais e 25 metros de largura, 3,30 m. de profundidade, não podendo chegar até ao enrocamento por haver encontrado no fundo resistências cada vez maiores. A solução foi lançar, de terra, ao encontro do canal, a ponte que lá está, com 100 metros de comprimento e que será, brevemente, substituída por um aterro. . . .