terça-feira, 10 de abril de 2007

04 - Pharoux & Prainha



O primeiro trecho da viagem para Teresópolis, era feito por barcos na baia da Guanabara.

As estações de embarque com destino ao porto da Piedade, em Magé, estavam localizadas no Rio de Janeiro, no “Cais Pharoux” no mesmo local da estação das Barcas na Praça XV ou na Praça Mauá no “Cais da Prainha”.








É que de 1896 a 1902, partia a barca que fazia o serviço insipiente de Therezopolis de uma antiga estação no Cais Pharoux, na Praça XV, ao lado da ponte de Paquetá da Companhia Ferry.





















Com as obras de remodelação da cidade, executadas pelo Prefeito Pereira Passos, foi demolida essa estação para dar lugar à bela balaustra de cantaria e à escadas de desembarque que ali se ostentam.













Para que o serviço da Therezopolis não se interrompesse, permitiu o Prefeito Passos que a Empresa construísse uma pequena estação de madeira, na “Ponte dos Marinheiros”, desembarque de inflamáveis na antiga Prainha, ao lado da ponte de Petrópolis, junto ao Arsenal de Marinha, na Praça Mauá. Aí ficou o ponto inicial da viagem para Therezopolis, até que as obras do Porto do Rio de janeiro obrigaram novamente a sua mudança.


Em 20 de setembro de 1910, para a doca do antigo mercado, na Praça XV, onde permaneceu por longo tempo, mesmo depois da encampação da Estrada pelo Governo Federal, em 1919, até a suspensão do serviço marítimo.


A revista Brazil Ferro Carril publicava a seguinte nota na ...







Este serviço era mantido inicialmente pela Companhia Ferry, que tinha os status aprovados pelo Governo Imperial desde 1860 e introduziu o sistema de ferry boat, embarcação a vapor para transporte misto de veículos, mercadorias e passageiros. As barcas, como a Santa Cruz, tinham capacidade para 300 passageiros e eram consideradas como embarcações "luxuosas e elegantes". O embarque era feito através de pontes, como as atuais, tornando mais prático e seguro o serviço de embarque e desembarque.













Com a fusão da Companhia Ferry e a Empresa de Obras Publicas do Brasil em 1889, surge a Companhia Cantareira e Viação Fluminense, que introduziu a venda de passes, recuperou as barcas antigas e construiu novas Estações, como a da Praça XV. Inaugurada em 1906.


A inauguração do novo Porto da Pieadade representou um grande melhoramento na viagem para Therezopolis. O percurso do Rio à Raiz da Serra passou a ser feito em menos de três horas e desse ponto a Therezopolis em outras três horas.
Regularizado o serviço de transporte entre a Capital e Raiz da Serra, em 1901, quando José Augusto Vieira se tornou o concessionário da Estrada e proprietário dos terrenos de Teresópolis, passou ele a cogitar o prosseguimento das obras de construção na Serra.

Após três anos, como o serviço das barcas da Companhia Cantareira também já não satisfizesse às exigências dos passageiros cujo numero crescia de ano para ano, tratou José Augusto Vieira de dotar a sal empresa com uma embarcação própria, mais rápida e mais adequada: adquiriu o antigo vapor “Cidade de santos” que passou a chamar-se “Therezopolis”, e que, depois de completamente reconstruído, entrou para o serviço da Estrada poucos dias antes de sua inauguração até a Barreira do Soberbo, a 315 metros de altitude, e a 4.500 metros da Raiz da Serra.



A “Gazeta de Noticias”, de 2 de Novembro de 1904, deu a seguinte noticia da entrada dessa embarcação em serviço:
E. F. THEREZOPOLIS
Realizou-se hontem a experiência official do vapor “Therezopolis”, totalmente reconstruído, pertencente á Empresa da Estrada de Ferro Therezopolis. O pequeno navio destina-se á carreira entre Prainha e porto da Piedade, devendo entrar em actividade no próximo dia 3 de Novembro. O director da Empresa, Sr. José Augusto Vieira, á custa de muito esforço e tenacidade consegue, assim, dotar o Estado do Rio de grandes melhoramentos, facilitando o transito de passageiros entre a Capital Federal e a linda e saudável cidade de Therezopolis.
Para o acto a que hontem assistimos, fora convidado o Dr. Nilo Peçanha, Presidente do Estado do Rio. S. Exa. Embarcou ás 2 horas da tarde em S. domingos, em lancha do Estado, acompanhado de sua Exma. Esposa, de sua prima Mlle. Evelina Belisario, do ajudante de ordens Capitão Fontenelle, do deputado Erico Coelho e dos Srs. Nestor Ascoli, Elysio de Araújo e Álvares de Azevedo Sobrinho.
O Dr. Nilo Peçanha chegou á estação da Estrada de Ferro Therezopolis, na Prainha, ás 2,20 da tarde, sendo recebido pelos Srs. José Augusto Vieira, director da empresa e Dr. Armando Vieira, director technico.
Uma lancha conduzio para bordo os convidados. Acharam-se ahi os Srs. Alberto Maxwell, Alberto Couto, Dr. Américo Werneck, consultor technicodo Estado. Dr. Benjamin da Rocha Faria, Mario Dutra Guimarães, Franklin de Almeida, representante d’”A Capital”, Joaquim Lacerda, do “Jornal do Commercio”, Mario Soares, do “Correio da Manhã”, Narciso Martins, do “Jornal do Brasil” e o representante d’”A Gazeta”.
A impressão immediata de quem subia no “Therezopolis” não podia ser melhor. Estava-se dentro de um elegante e sólido vaporzinho. Asseiado, confortável, luxuoso mesmo. São estas as suas dimensões: 90 pés entre perpendiculares; bocca 16 pés; calado 4 pés á proa e 6 a ré. O “Therezopolis” tem duas machiinas de tríplice expansão do fabricante inglês William Allsup, de 200 H. P. cada uma, trabalhando com 140 libras de pressão. Foi reconstruído nas importantes officinas de Srs. Felismino Soares & Cia., sendo totalmente chapeado de aço. Os trabalhos de carpintaria foram feitos nas officinas dos Srs. Augusto de Moraes, correndo todos os serviços sob a immediata fiscalisação da Empresa.
Pouco depois de estarem todos a bordo, levantou ferro o navio e rumou para a Armação. Em poucos minutos alcançou o destino.
A ancora desceu e, ahi, serviram-se sorvetes aos convidados. O espetáculo que se desenrolava era, então, magnífico. Com um dia luminoso de hontem, o panorama da bahia era bellissimo.
Ia-se fazer a experiência definitiva de marcha do navio. Este deu uma pequena volta e partindo do Toque-Toque, fez proa para Gragoatá em linha recta. Em optima carreira foi feito o percurso, demonstrando a velocidade de 12 milhas por hora. Estava terminada a experiência com resultado excellente.
Em frente á barra, o “Terezopolis”, tendo descripto uma suave curva, partiu em direcção a Niteroy, parando em frente a S. Domingos. Então, o Dr. Nilo Peçanha e os demais convidados desceram para a câmara, uma confortabilíssima peça, onde se serviram champagne e biscoitos. O Dr. Nilo Peçanha brindou o Sr. José Augusto Vieira, fazendo votos pela prosperidade da Empresa. Respondendo, o Sr. Augusto Vieira, bebeu á felicidade´pessoal de S. Exa.
Neste momento atracava ao navio a lancha que devia conduzir o Dr. Nilo Peçanha a Niteroy. S. Exa. Despediu-se passando para a embarcação que o esperava, acompanhado de sua Exma. Família e pessoas da comitiva.
O “Therezopolis”, por sua vez, regressava á Prainha, onde chegou ás 5,40 da tarde. Assim terminava o passeio encantador deixando em todos quantos nelle tomaram parte uma inapagavel impressão, que foi tranmittida ao digno directo da E. F. Therezopolis.

Um mês depois de inaugurado oficialmente o “Therezopolis”, isto é, a 1º.de Dezembro de 1904, assim noticiava a “Gazeta de Noticias” a inauguração do primeiro trecho de cremalheira, na serra de Teresópolis, com a presença do Sr. Nilo Peçanha, presidente do Estado do Rio de Janeiro:

. . . Ás 8 ½ horas da manhã SS. Exas. Chegaram á estação marítima da Estrada de Ferro, sita na Prainha, onde os aguardava o seu operoso proprietário Sr. José Augusto Vieira, o Engenheiro Armando Vieira e o Sr. Mario Dutra Guimarães que, em seguida os conduziram para bordo do vapor “Therezopolis”, que faz o serviço da Empresa entre esta cidade e o porto da Piedade, onde todos desembarcaram ás 10 horas da manhã . . .
. . . Ás 5 horas SS. Exas. Estavam, de regresso, na Prainha, todos muito agradavelmente impressionados com a esplendida excursão . . .

Ainda em seu discurso em 19 de Setembro de 1908, quando da chegada do trem a Therezopolis, José Augusto Vieira também declarou

. . . Enquanto se lançava a cremalheira sobre esse leito custoso, enquanto se construía a ponte sobre o Paquequer e se armava o viaduto de aço no kilometro 29, atendi ao serviço de navegação entre a Capital da Republica e o porto da Piedade. O vapor “Therezopolis” já não satisfazia. Mandei construir na Europa outro vapor, exclusivamente para passageiros, e com velocidade de 15 milhas. É o “Presidente”, cujas experiências na bahia do Rio de Janeiro confirmaram a posse dos atributos requisitados.
Acha-se, pois esta Empresa aparelhada para o trafego marítimo e terrestre, conforme as exigências do serviço atual. . . .

Conjuntamente com a Estrada inaugurava-se o vapor “Presidente”, o mais veloz da bahia, proporcionando meios de se efetuar a viagem do rio a Therezopolis em menos de 3 horas.
O “Jornal do Commercio”, em suas edições de 19 e 20 de Setembro de 1908, trouxe as seguintes informações.

. . . Celebraram-se grandes festas.

Ás 7 horas da manhã de 19 de Setembro partiram os convidados, da ponte da Prainha, no novíssimo vapor “Presidente”. Á mesma hora partia de Nictheroy o Sr. Presidente do Estado com sua comitiva passando-se, em meio da viagem, para o “Presidente”. Aportados á Piedade, passaram-se todos para o trem inaugural, chegando a Therezopolis pouco depois das 10 horas...

Após a encampação da Estrada em 1919, o progresso foi notável. O trafego foi aumentado acentuando-se mais ainda no primeiro semestre de 1923.
Mesmo assim o déficit governamental orçava em pouco mais que a receita total. Por exemplo, no ano de 1922, a receita foi de 705.721$958 e a despesa 1.476.613$768, o que representava déficit de nada menos que 770.891$810.
Um déficit tão volumoso como este era devido à existência, entre dois trechos de aderência, de um serviço especial de serra, por si só oneroso. Mas era engrossado principalmente pelo serviço marítimo. Para evitar tão alto ônus, o governo decidiu estabelecer tráfego mútuo com a Leopoldina.
Transporte direto por terra até Praia Formosa, para aí dirigindo-se de Magé, pelo Porto das Caixas e daí continuando pela Estrada Leopoldina até a Praça Mauá, no Rio de Janeiro.
Este trafego inaugurou-se a 11 de novembro de 1923
O porto da Piedade perde sua importância a partir de então.

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